sábado, 19 de outubro de 2013

Biblioteca Municipal Mário de Andrade


A Biblioteca Mário de Andrade (BMA) é a principal biblioteca pública da cidade de São Paulo, Brasil. Fundada em 1925, a partir do acervo da Câmara Municipal, consolidou-se ao longo de sua história como uma das mais importantes instituições culturais brasileiras. Seu edifício-sede, localizado no centro histórico da capital paulista, é considerado um dos marcos arquitetônicos do estilo art déco na cidade.
Detentora do segundo maior acervo documental e bibliográfico do país – atrás somente da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro , a BMA é por excelência o órgão depositário de todos registros histórico-culturais da cidade de São Paulo. Seu acervo conta com aproximadamente 3,3 milhões de títulos1 , cobrindo todas as áreas do conhecimento humano, e conserva um amplo conjunto de incunábulos, manuscritos, brasiliana, gravuras, mapas e outras obras raras, majoritariamente produzidas entre os séculos XV e XIX
Embora o acervo da antiga Biblioteca Pública Oficial de São Paulo continuasse a pertencer a uma instituição pública, sua nova função de biblioteca universitária privava a cidade da existência de uma biblioteca de livre acesso.
Em 1911, era fundada a Biblioteca Pública do Estado de São Paulo, órgão responsável pela guarda da documentação e acervo bibliográfico do executivo estadual, mas o acesso da comunidade a esta também era restrito. Com o objetivo de prover a cidade de uma biblioteca pública operante, a Câmara Municipal de São Paulo abriu seu acervo bibliográfico aos paulistanos em 1925.
A fundação
Em 25 de fevereiro de 1925, durante a administração Firmiano de Morais Pinto, foi oficialmente instituída a "Bibliotheca Municipal de São Paulo", tendo como fundo o acervo da biblioteca da Câmara Municipal. A instituição só seria aberta à comunidade em janeiro de 1926, em um casarão da rua Sete de Abril, no centro da cidade, com um acervo de 15 mil volumes.
Facha principal da Biblioteca
Sob a administração Fábio da Silva Prado (1934-1938), a biblioteca seria consolidada e normatizada. Para isso, contribuiu profundamente a criação, em 1935, do Departamento de Cultura da Municipalidade Paulistana (futura Secretaria Municipal de Cultura). Idealizado por intelectuais ligados à Semana de Arte Moderna, entre os quais Paulo Duarte, Alcântara Machado e Sérgio Milliet, teve Mário de Andrade como primeiro diretor. É nesse contexto que toma força a idéia de fazer da biblioteca o órgão depositário de toda a documentação histórico-cultural da cidade e do Brasil.
Em 1936, ainda na gestão Mário de Andrade, o Departamento de Cultura inaugura, por iniciativa da pedagoga Lenyra Fraccarolli, a Biblioteca Infanto-Juvenil - atual Biblioteca Monteiro Lobato. Voltada à formação do público jovem, a biblioteca mantém um dos mais expressivos acervos de títulos infanto-juvenis do país.
Ampliação do acervo
Nas duas primeiras décadas após sua fundação, a Biblioteca Municipal logrou reunir, por meio de compras e doações de grandes bibliófilos e colecionadores brasileiros, importantes acréscimos ao seu acervo original. Em 1936, a biblioteca adquiriu a coleção Félix Pacheco, à época considerada a maior e mais importante coleção privada de brasiliana do país. No ano seguinte, recebeu em doação um grande número de manuscritos e obras raras pertencentes a Batista Pereira.
Uma das mais importantes contribuições para a formação do acervo deu-se em 1939, quando a Biblioteca Pública do Estado de São Paulo fundiu-se à Biblioteca Municipal, resultando na incorporação de mais de 70 mil volumes à coleção. Entre as obras provenientes da Biblioteca do Estado, destacam-se representativos conjuntos documentais sobre a história da cidade e do estado de São Paulo, uma ampla coleção de obras raras, além da biblioteca particular do Barão Homem de Mello, ex-presidente da província.
Posteriormente, a biblioteca recebeu doação de livros, periódicos, manuscritos, mapas e obras de arte que pertenceram a Paulo Prado, escritor e organizador da Semana de Arte Moderna, e Pirajá da Silva, médico e pesquisador. Outras doações de importantes intelectuais incluem as bibliotecas particulares de Sérgio Milliet, Carvalho Franco, Maynard de Araújo, Otto Maria Carpeaux, Pereira Matos, Paula Souza, José Perez e Paulo Duarte, entre outros.
A nova sede
Fachada principal da BMA, na Rua da Consolação.
No começo da década de 40, o acervo da Biblioteca Municipal já ultrapassava os 110 mil volumes.Crescia rapidamente o número de consulentes, sobretudo após a inauguração do setor circulante, que disponibilizava obras para empréstimo.
A biblioteca também inicia um programa educacional: por meio de convênio com a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, passou a oferecer um dos primeiros cursos de biblioteconomia do país. O casarão que abrigava a biblioteca, no entanto, já estava saturado. Tornava-se necessária a transferência para um novo edifício, que comportasse o crescimento do acervo e das atividades.
A nova sede foi idealizada
pelo próprio diretor da Biblioteca Municipal, o bibliófilo e escritor Rubens Borba de Moraes, e pelo arquiteto francês Jacques Pilon. Foi inaugurada oficialmente em 25 de janeiro de 1942, pelo então prefeito Prestes Maia. Situa-se na Rua da Consolação, 94, no centro da Praça Dom José Gaspar.
O imponente edifício, marcado pelo rigor geométrico e pelo equilíbrio entre as proporções monumentais da obra e sóbria decoração dos elementos externos, é considerado um dos marcos do estilo art déco em São Paulo. Inspirado em instituições congêneres da Europa e dos Estados Unidos, o projeto original previa a construção de duas torres de 22 andares cada, com capacidade total para abrigar um milhão de livros, mas apenas uma foi construída. O edifício é tombado pelo Conpresp e pelo 
Efervescência cultural
Em 1943, o poeta Sérgio Milliet assume a direção da Biblioteca Municipal, cargo no qual permanecerá até 1959. Durante sua gestão, inserida no contexto de efervescência cultural que marcou a década de 40 na cidade de São Paulo, a Biblioteca Municipal amplia sua atuação didática e passa a seguir
critérios mais amplos em sua política de aquisição. Milliet firma acordos de cooperação com a Biblioteca Nacional de Paris e cria a Seção de Artes. No mesmo ano, a biblioteca começa a publicar regularmente seu Boletim Bibliográfico e a Revista da Biblioteca Mário de Andrade. Também passa a promover uma série de atividades culturais, como palestras e mesas-redondas, das quais participaram Roger Bastide, Luís Martins, Lourival Gomes Machado, Osório César e Luis Saia, entre outros.
Conduzida em suas três primeiras décadas de existência por grandes expoentes do modernismo brasileiro, a Biblioteca Municipal abrigou, a partir de 1946, a primeira coleção pública de arte moderna do país, anterior à fundação do MASP, MAM e MAC, com pinturas, esculturas, gravuras e desenhos originais de artistas brasileiros, como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Lasar Segall, Cândido Portinari, Bruno Giorgi,
Oswaldo Goeldi, Lívio Abramo, Aldo Bonadei, Cícero Dias e Carlos Scliar, e nomes estrangeiros do porte de Pablo Picasso, Marc Chagall, Joan Miró, Henri Matisse, Fernand Léger, Marie Laurencin, Georges Rouault, Sonia Delaunay, Francis Picabia e Árpád Szenes. Atualmente, a coleção integra o acervo da Pinacoteca Municipal.
Sérgio Milliet empenhou-se em elevar a Biblioteca Municipal a padrões internacionais. Os dezesseis anos nos quais esteve à frente da instituição foram bastante proveitosos, sobretudo para a ampliação quantitativa e qualitativa do acervo, o estabelecimento de uma agenda cultural e o aumento no número de consulentes. Detentora de amplo prestígio e visitação, a Biblioteca Municipal tornou-se, em 1958, depositária oficial do material publicado pela Organização das Nações Unidas - normatizando uma situação já estabelecida, uma vez que a biblioteca já recebia gratuitamente o material da organização desde 1949.
Nesse período, a biblioteca possui ampla participação no meio intelectual paulistano, sendo freqüentada por acadêmicos como Michel Debrun, Bento Prado e Lívio Teixeira e, posteriormente, por Fernando Henrique Cardoso e Marilena Chauí.16 Em 1957, no entanto, o edifício-sede, inaugurado apenas 15 anos antes, já encontrava-se saturado e com problemas estruturais, conforme noticia a imprensa à época: "A Biblioteca Municipal de São Paulo não consegue mais atender a demanda. Todos os dias formam-se filas de estudantes à espera de um lugar no salão central onde possam pedir os livros e estudar." Em 15 de fevereiro de 1960, a instituição recebeu sua atual denominação oficial: “Biblioteca Pública Municipal Mário de Andrade".
Da década de 50 até o final da década de 60, o Departamento de Cultura buscou consolidar a rede de bibliotecas de bairro (atual Sistema Municipal de Bibliotecas),
com o objetivo de dotar as várias regiões da cidade de bibliotecas capazes de atender à demanda de estudantes, pesquisadores e do público em geral, com especial ênfase em acervos voltados ao público infanto-juvenil. A Biblioteca Mário de Andrade passou a funcionar como biblioteca central do sistema, com ramais em diversos bairros. Entre as primeiras bibliotecas integradas à rede estavam, além da BMA e da Biblioteca Infanto-Juvenil, as bibliotecas Anne Frank (1946), Clarice Lispector (1950), Hans Christian Andersen (1952), Viriato Corrêa (1952), Francisco Patti (1953) e Infantil de Santo Amaro (1953). Outras dezenas de bibliotecas seriam criadas nas décadas seguintes.
Na década de 70, estruturou-se a Secretaria Municipal de Cultura, que absorveu as antigas atribuições do Departamento de Cultura, tornando-se responsável pela gestão das bibliotecas municipais. Em 1975, a secretaria cria o Departamento de Bibliotecas Públicas e o de Bibliotecas Infanto-Juvenis. Dessa forma, a Biblioteca Mário de Andrade perde a especificidade administrativa que a diferenciava das demais unidades da rede. A partir de então, passa a ser gerida como mais uma entre dezenas de bibliotecas da secretaria, o que acarreta uma sensível diminuição de sua receita orçamentária e faz decair o nível dos serviços oferecidos pela instituição.
Deterioração
A criação de uma rede de bibliotecas públicas na cidade e as reformas administrativas da década de 70 implicaram um esvaziamento da BMA.16 Seguindo as novas diretrizes, a biblioteca relega a conservação e ampliação do acervo a segundo plano e abandona sua ampla atividade intelectual. A biblioteca logo entra em um longo período de deterioração, acompanhando a decadência de parte da área central da capital paulista. Estudantes, universitários e pesquisadores passam a procurar bibliotecas mais estruturadas em outros pontos da cidade, ocasionando uma queda abrupta no número de visitantes.
Na década de 80, numa tentativa de sanar os problemas relacionados à saturação da capacidade do edifício-sede, a Secretaria Municipal de Cultura concebeu a construção de uma extensão da BMA no bairro do Paraíso, em um terreno localizado entre a avenida Vinte e Três de Maio e a rua Vergueiro. No decorrer nas obras, no entanto, o projeto sofreu uma série de adaptações e teve sua proposta de uso alterada: ao invés da extensão da
Mário de Andrade, o novo equipamento abrigaria o Centro Cultural São Paulo (CCSP), inaugurado em 1982.20 Para criar as bibliotecas do CCSP, transferiu-se parte substancial do acervo da Mário de Andrade para as recém inauguradas bibliotecas Sérgio Milliet e Alfredo Volpi.
Durante a gestão de Luiza Erundina (1989-1993), a filósofa Marilena Chauí esteve à frente da Secretaria Municipal de Cultura. Sob sua administração, a BMA empreendeu alguns melhoramentos no edifício-sede, instalando equipamentos para combater incêncios e um sistema de ar-condicionado central, além de pequenas intervenções nos salões térreos destinados ao público. As reformas, no entanto, foram suspensas após o término da gestão Erundina, ficando inacabadas.
Mais recentemente, em setembro de 2006, a BMA divulgou um grande furto de obras raras de seu acervo. Entre as obras subtraídas, encontravam-se o livro de horações Hore Intemerate Beate Marie Virginis, de 1501, um conjunto de 42 gravuras de Debret, 58 gravuras de Rugendas, litografias de Burmeister e o álbum Souvenirs do Rio de Janeiro de Johann Jacob Steinman.
A BMA na atualidade
O grave estado de deterioração da Biblioteca Mário de Andrade acabou por gerar nos últimos anos algumas ações pontuais do poder público e da iniciativa privada visando a sua readequação. Em 2001, foi criado o Colégio de São Paulo, um programa desenvolvido pela Divisão de Difusão Cultural da biblioteca com o objetivo de fomentar a reflexão e o debate sobre questões relevantes do mundo contemporâneo, através de palestras lecionadas por renomados profissionais das mais diversas áreas do saber. Em 2003, foi criada a Associação de Amigos e Patronos da Biblioteca Mário de Andrade.
Em 2005, uma reforma administrativa deu à BMA o status de departamento, o que lhe confere maior autonomia sobre suas ações culturais e apoio para planejar sua restruturação. A biblioteca passa a contar também com um Conselho Consultivo,
responsável pela organização e normatização das ações da biblioteca. Recentemente, algumas empresas públicas e privadas anunciaram projetos de de recuperação, higienização e informatização do acervo.
Com o objetivo de dotar o espaço físico da biblioteca de melhores condições técnicas, de segurança e de conservação do acervo, a prefeitura assinou, em julho de 2007, contrato de reforma com o consórcio Concrejato-Tensor. O custo será de 13 milhões de reais e a conclusão está prevista para fevereiro de 2009. Bancada principalmente com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, a reforma promete sanar problemas críticos do edifício e ampliar as instalações. A biblioteca deverá também ser integrada a um anexo, o edifício do Ipesp, que abrigará a coleção de periódicos e laboratórios de restauro, microfilmagem e encadernação. O projeto arquitetônico é do escritório Piratininga Arquitetos Associados.






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